Boicote do agro ameaça carnes no Carrefour e amplia crise comercial com o Brasil

O agronegócio brasileiro reagiu com um boicote ao Carrefour após a rede anunciar que não comprará mais carne do Mercosul para suas lojas na França. Grandes frigoríficos, como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carnes ao Carrefour no Brasil, o que já impacta cerca de 150 lojas da rede, incluindo Atacadão e Sam’s Club. Estima-se que até 40% das gôndolas de carne estejam desabastecidas.

A polêmica começou após o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmar que a decisão de banir carnes do Mercosul visa atender a compromissos ambientais. Apesar da empresa garantir que a medida se aplica apenas ao mercado francês, a declaração foi vista no Brasil como discriminatória. Em resposta, o Ministério da Agricultura e produtores brasileiros afirmaram que, se a carne não é aceita na França, também não deveria abastecer as lojas do Carrefour no Brasil.

Além do boicote dos frigoríficos, bares e restaurantes aderiram ao movimento, e consumidores brasileiros iniciaram campanhas nas redes sociais contra a varejista.

Entidades agropecuárias publicaram uma carta aberta classificando a decisão como "protecionista" e destacaram que o Brasil é líder global em exportação de carne, com práticas de sustentabilidade reconhecidas. O texto ressalta que a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172% nos últimos 30 anos, reduzindo a área de pastagem em 16%.

A crise ocorre em meio a outras tensões comerciais envolvendo produtos brasileiros. Recentemente, a Danone anunciou que não compraria mais soja do Brasil devido a preocupações ambientais, mas voltou atrás após forte repercussão negativa.

Especialistas, como Daniel Vargas, da FGV, apontam que questões climáticas estão sendo usadas como pretexto em disputas comerciais. Segundo ele, essas narrativas são baseadas mais em interesses econômicos do que em dados ou ciência rigorosa.